NÃO VIVO MAIS EU

 


Há coisas na natureza que nos passam ao lado, algumas desconhecemos e outras simplesmente ignoramos. Mas as mensagens e as aprendizagens permanecem lá, à distância de um olhar, e ao custo de um aprendizado. Percebemos que há tanto na natureza que nos deixa intrigados e nos passa um diagnóstico de ignorância perante tamanha sabedoria. Assim me senti eu, enquanto olhava para esta planta, a chamada buganvília, ou para os amigos: “primavera”. 

Ela não consegue passar despercebida, principalmente quando se enche deste rosa forte, mas também não creio que essa fosse a sua vontade. Não mentimos quando dizemos que ela está cheia de flores, mas somos ignorantes quando afirmamos que as suas pétalas são rosa. Quando a “Primavera” se veste de rosa, está cheia de flores, mas as suas pétalas são brancas. 

Mas para quê, afinal, tanta exuberância, será o seu propósito nos confundir, baralhar ou enganar? Bem acho que a planta não está nem aí para nós, mas ela diligentemente cumpre o propósito para o qual foi plantada, propósito esse que é a simples reprodução. Na verdade esse é o principal objetivo das flores: se reproduzirem. Por isso cada planta tem a sua estratégia única para atrair os polinizadores. 

A maior parte das plantas são polinizadas por insetos. No caso da bungavilia a sua principal característica são as suas folhas de cor rosa, chamadas de brácteas. Essas folhas são muitas vezes confundidas com pétalas, por causa da sua cor, no entanto são folhas modificadas e com cor forte cujo objetivo é atrair os polinizadores. A verdadeira flor da “Primavera”, é de cor branca e de um tamanho minúsculo. Senão fossem essas folhas, de cor modificada, muito provavelmente elas apanhariam os insetos, responsáveis pela polinização, distraídos e acabariam por terminar o seu ciclo sem concluir o seu propósito de reprodução.

Então eu pergunto-me o porquê de toda esta sabedoria ter sido encaixada de forma tão intrigante e cheia de ciência? O que aprender com as buganvílias, as brácteas ou até os polinizadores? Eu aprendo e relembro que também eu, também nós, temos igualmente um propósito e ele não é assim tão distinto do das flores. 

Se o propósito delas é se reproduzir, o nosso é fazer discípulos. Mas tal como elas é necessário uma estratégia. Bem para as plantas até podemos chamar de estratégia, no entanto no nosso caso não sei bem se esse seria o melhor termo a usar. Talvez chamaria mais de dependência, e já passo a explicar. ~

Muito nos enganamos quando pensamos que fazemos discípulos por causa daquilo que somos ou temos. Pergunto-me, o que há afinal em mim de tão belo e atraente que exerça um tal poder de atração dos outros a Cristo? Não minto quando confesso que sou sal e luz do mundo, mas sou totalmente ignorante quando penso que esse brilho ou tempero vem de mim mesma. 

Somos apenas aquela florzinha branca, quase imperceptível e tão frágil. As folhas vistosas e rosa são a glória de Cristo, a sua própria vida em nós. Ao pensar neste mistério, meu coração desacelera e há um certo apaziguar da minha ansiedade nos resultados que a minha vida possa reproduzir. Sim fui criada com um propósito de atrair outros a Cristo, mas isso não depende de mim, antes depende de eu estar ou não ligada a Cristo. Por isso falei de dependência, somos totalmente dependentes d’Ele, tanto para querer como para realizar aquilo que é a sua boa obra. 

Assim quando me elogiam ou honram pelas minhas boas obras, sei que o que é visto em mim não sou mais eu, mas Cristo que vive em mim. Sim eu me esforço e procuro viver diligentemente, mas acima de tudo preciso de descansar na dependência de Cristo e quando então a minha vida reproduzir vida, devo saber que apesar de ter feito parte do processo, Ele é o único a quem na verdade deve ser dada a honra e a glória, pois Ele é a verdadeira vida, a verdadeira luz que atrai pecadores à redenção.

Sara Rosa


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