FAMA E GLÓRIA




Fama e glória, conceitos tão parecidos, mas com significados tão distintos. Talvez o mais conhecido e badalado por nossas gerações seja a “fama”. Ser famoso tornou-se o sonho ideal, a aspiração crescente de nossos enganosos corações. Queremos ser notados, queremos ser vistos, queremos ser conhecidos e para que isso aconteça, torna-se imperativo que façamos algo notável e distinto. 

Para uns não importa muito o tipo de fama, se boa ou má, o importante é consegui-la. Já para outros, mais sagazes, é necessária uma artimanha mais trabalhada, para que a parte miserável seja camuflada fazendo com que apenas venha à tona aquilo que é apreciado e aplaudido. 

Mas muito mais que apenas um sonho ideal ou aspiração, a fama se tornou um senhor opressor e ditador de nossas ações. É ele quem afinal dita os caminhos que escolhemos e que classifica aquilo que vale ou não a pena. Então eu me pergunto: porque estou eu a escrever? Ou até porque escrevo sobre isto? Quem é o senhor que comanda as minhas ações e motivações? O que espero eu, busco a atenção de quem? A resposta a esta pergunta é mais difícil que aquilo que imaginamos, pois enquanto o nosso intelecto consegue formular rapidamente uma resposta estruturada em defesa de nós mesmos, o nosso coração é mais audacioso e dissimulado e traz até nós sentimentos contrários aos argumentos intelectuais que desenvolvemos. Por isso o desejo por fama, reconhecimento ou notoriedade, não está no campo da intelectualidade, mas sim da afetividade. Ela nos fala do amor desordenado e nos conduz para o altar da idolatria, onde nos dobramos perante ídolos que recompensam-nos tornando-nos ídolos de outros. 

Este é o simples e cru caminho da insatisfação e infelicidade e quantos não se têm perdido nele? É certo que não quero seguir por ele, mas não posso menosprezar a sua astúcia em me ludibriar. Talvez mais perigoso do que caminhar neste caminho da busca pela atenção, seja o nosso olhar cobiçoso para este caminho desviante que nos empurra a experimentar um pouco de seu terreno. Mas o que pode nos livrar desta rede que tão facilmente nos enleia em seus fios opressores? Em meus pensamentos e questionamentos, encontrei uma boa resposta, talvez até o poderia chamar de antídoto. Ela encontra-se em João 7:3;4,7: 

“Disseram-lhe, então, seus irmãos: Retira-te daqui e vai para a Judeia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque ninguém faz coisa alguma em oculto, quando procura ser conhecido. Já que fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.” 

Os irmãos de Jesus, que o viam apenas como um fazedor de milagres, lhe apresentaram o caminho da fama. Ali mesmo estava a oportunidade para que Jesus se tornasse famoso e conhecido. Que desperdício seria não aproveitar a oportunidade da enchente de gente que viria para a Festa dos Tabernáculos! Afinal ela era somente, e o digo com ironia, uma das 3 principais festas anuais dos judeus que movia dezenas de milhares de pessoas. Por que ficar na Galileia quando um palco gigantesco estava montado em Jerusalém? Mas é a resposta de Jesus que nos dá as pistas daquilo que deve motivar as nossas escolhas. Jesus diz: 

“Disse-lhes, então, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo; mas o vosso tempo sempre está presente.”  

Mas então havia um tempo? Sim havia um tempo, porque havia um propósito. O propósito não era o ser conhecido por ser conhecido, mas a glória do Pai. Jesus não vivia segundo a sua vontade, mas segundo a vontade daquele que o havia enviado. (João 5:30) Mais do que fazer milagres, Ele veio para realizar Aquele Milagre- a Redenção. Por isso não havia lugar para ditadores de agenda, pois o propósito era a glória do Pai e o caminho a obediência ao Pai. É certo que rapidamente a fama de Jesus se espalhou e Ele foi corretamente colocado no altar de adoração, pois sendo homem, não deixou de ser Deus. Mas muito Jesus nos ensina.  

É preciso ter o devido equilíbrio e o antídoto certo. Uns em nome de “não quererem a fama” deixam de buscar a glória de Cristo, se fechando neles mesmos e impedindo que outros a possam ver. Já outros, em nome da glória de Cristo, buscam meios para alcançar a fama e o reconhecimento. É então que Jesus nos mostra o caminho: a motivação para tudo tem de ser verdadeiramente a glória de Deus e o terreno desse caminho é a obediência e isso nos conduzirá, inevitavelmente para a esfera pública, onde seremos amados e odiados, aplaudidos e chicoteados. Como Agostinho certa vez orou:  

“Sê a nossa glória. Se formos amados, que seja por tua causa” Eu ainda acrescentaria: se formos odiados que seja por tua causa, mas que no fim toda a nossa vida seja um manifesto da glória de Deus e não uma busca vazia por distinção e aprovação humana.  

Que a glória de Deus seja como um guarda-chuva que nos cobre e nos torna visíveis para o mundo, mas que ao mesmo tempo nos protege das chuvas da fama. Por vezes as gotas da chuva nos molharão pois estamos expostos a ela, mas não seremos encharcados ao ponto de adoecer, pois estamos debaixo da glória de Cristo que nos cobre e protege. Ao contrário do guarda-chuva que é conduzido por nós, a glória de Cristo é que nos conduz e direciona para o lugar da Sua vontade, se a seguirmos estaremos seguros, estaremos protegidos. 

Sara Rosa

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