FROZEN versus LUTERO
Frozen... Martinho Lutero... Numa linguagem mais polida poderia dizer: O que as calças têm haver com a camisola? Bem aparentemente nada, mas na verdade alguma coisa.
Na verdade não quero fazer uma comparação genérica entre o filme da Frozen e Martinho Lutero, mas mais propriamente com a personagem principal, a Elsa.
Quem a conhece? Se és pai ou mãe de menina não tens hipótese, não é mesmo?
De certeza, que tal como eu, já cantas-te: "Já passou, já passou..." ou cantando na língua original: "Let it go, let it go..." que melhor traduzindo ficaria algo como: "Deixa ir, deixa ir..." ou tomando a expressão brasileira: "Deixa rolar...", enfim como queiras, mas é isso: deixa ir, deixa rolar, simplesmente deixa...
Que música poderosa não é? Faz nos sentir isso mesmo, poderosos. Não vou estender texto a contextualizar a história da Elsa, porque se estás a ler este texto é quase certo que conheces o filme, ou não?
Convido-te antes a ler a letra da música que ganhou o Óscar de melhor música original de 2013: "Let it go", que é o tema musical do filme Frozen.
Se realmente tens interesse em conhecer aquilo que a nossa sociedade pós-moderna acredita, esta música é uma excelente narrativa.
Aparentemente a letra da música é apaixonante, quem não gosta de ser capaz de romper com os seus medos e finalmente deixar de sentir suas emoções suprimidas? Realizar os seus sonhos e desejos e sentir-se finalmente livre?
( Eu não me importo com o que eles vão dizer)
(Deixa a tempestade se enfurecer)
WOW... espetacular alcançar essa liberdade, não?
Conseguir fazer escolhas sem que o que os outros dizem nos afete? Mesmo sabendo que isso possa causar uma tempestade? Brutal!
Sem dúvida, só que no meio do fantástico está bem presente aquilo que mete medo, muito medo:
(Sem certo, sem errado, sem regras para mim)
"I'm free"
( Eu sou livre)
Pois, lá está a mensagem maravilhosa com alguns grandes borrões.
Quem será afinal o rei ideal que pode governar e por fim a este conflito interno?
Serão mesmo os nossos desejos e emoções e a filosofia do "let it go", sem certo, nem errado e sem regras?
Fica a pergunta.
Não sei se sabes, mas de muitas formas o cristianismo tem marcado a história da humanidade e influenciado os comportamentos humanos em várias esferas, tais como, a social, familiar, laboral… o grande e grave problema é que Deus tem sido subtraído ou pura e simplesmente excluído desses princípios, que eram primeiramente cristãos, mas que por causa dessa subtração de Deus, se têm tornado anticristãos.
Não existe verdade à parte de Deus.
Mas deixa-me dar aqui algum exemplo que consiga tornar mais claro aquilo que quero dizer.
Em algumas gerações antes de nós, não existia este valorizar dos desejos ou emoções humanas. Haviam pessoas que viviam aprisionadas à condição social em que nasciam sem ter muita opção de escolha, simplesmente por ser essa a sua obrigação e o seu lugar. Pessoas negras não tinham as mesmas opções que pessoas brancas, as mulheres só podiam exercer os papéis impostos pela sociedade, os pobres não tinham as mesmas oportunidades e por aí... Pouco importava o que se sentia ou desejava, era o que era.
E então a mensagem do evangelho surgia como uma narrativa contrária a esse sistema da sociedade, como escreveu Timothy Keller: "Diferentemente dos pensadores da antiguidade clássica, para o cristão, a emoção era uma coisa que não deveria ser ignorada ou simplesmente reprimida. Pelo contrário, deveria ser examinada e redirecionada para Deus"
Ora aí está a parte que a sociedade pós -moderna se esqueceu, eles ficaram apenas com a parte do "let it go" e excluíram a parte do examinar e redirecionar para Deus.
As emoções e os desejos passaram por isso de importantes a soberanos. Oh e quão perigoso isso se torna. Quando colocamos no trono as nossas emoções e desejos não vencemos nenhuma tempestade, como a letra da música sugere, mas antes acabamos sendo engolidos por ela.
Sejamos sinceros, não são tantas vezes contraditórios, inconstantes e incoerentes os nossos desejos e emoções? Não nos causam vergonha alguns dos pensamentos que temos? Estaríamos realmente dispostos a mostrar num ecrã público aquilo que lá vai em nossos corações e mentes? Não andamos cá nós, tantas vezes, a criar personagens irreais e a tentar fazer crer aos outros que somos aquilo que não somos?
Mas com toda esta conversa onde entra Martinho Lutero?
Ou até podia mesmo perguntar, onde entramos nós? Sim, porque Martinho Lutero também passou por conflitos internos, tal como a Elsa, tal como eu e tu, afinal.
A grande questão é: quem está no trono do nosso ser? Porque lutamos e para quem lutamos?
Martinho Lutero vivia em constante conflito interno por causa do que lhe era imposto pelo sistema religioso. Ele se sentia verdadeiramente aprisionado por um conjunto de ideias que o consumiam. Mas foi ao ter um encontro com a Verdade, que ele se sentiu verdadeiramente livre e capaz de enfrentar toda a tempestade que estava prestes a romper. Ele não se importou com o que os outros iam dizer, nem tão pouco com a tempestade que se iria levantar. Ao contrário da Elsa, não foi o entronizar de seus emoções e desejos, mas o entronizar de Deus em seu coração que o tornou livre. Sim, Deus tomou o lugar no trono do coração de Lutero e isso sim resolveu os seus conflitos e o capacitou a enfrentar qualquer tempestade.
Curiosamente, quando Lutero se apresenta perante o santo imperador romano, ao apresentar a sua defesa ele diz a mesma frase que a Elsa: "Here I stand"- (Aqui estou ou aqui me posiciono.) Com estas palavras Lutero afirmou não ter medo porque ele sabia que a Palavra da Verdade o tinha tornado verdadeiramente livre, já a Elsa declara, falaciosamente, que é livre através do assumir do trono do seu próprio ser.
Relembro-me, também, quando procuram prender Jesus. Perguntaram por Ele, ao que Jesus prontamente respondeu: "Sou eu" ou, por outras palavras, "aqui estou", "aqui me posiciono", "here I stand." Apesar de saber a tamanha tempestade pela qual passaria, Jesus não teve medo nem recuou, mas assumiu a sua identidade, ousadamente, porque Ele sabia a quem estava obedecendo. Sua vontade estava governada pela Vontade do Pai. E na Sua sujeição Ele conquistou a vitória.
Não nos deixemos por isso enganar. Não existe verdadeira liberdade do medo, nem vitória sobre a tempestade quando o lugar do trono não é ocupado por Deus.
A filosofia do "Let it go" sem Deus na equação, é a profunda queda do Homem moderno, tal qual aquela que começou num jardim, num tal de Éden.
Sara Rosa
Créditos: Foto de Egor Kamelev no Pexels
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