GRAÇA RECICLADORA

 



A graça de Deus pode ser vista de vários ângulos e experimentada em várias dimensões. Será que já conheces este ângulo da graça, a graça recicladora? Não duvido que sim, talvez não a nomeaste desta forma, mas certamente a experimentaste nesta dimensão. Não precisamos de ser especialistas em reciclagem para entender muito bem para que serve. A reciclagem nos ensina que nada deve ser desperdiçado, tudo se pode aproveitar, desde o pacote mais sujo ao papel mais bolorento... Tudo pode ser transformado. Tudo? Será que é tudo mesmo? Humh, em relação à reciclagem efetuada pelos homens, não sei, conservo ainda algumas de minhas dúvidas. No entanto, em relação à graça de Deus ela sim é recicladora e sem limites. Deus não desperdiça nada. Nada mesmo.  

Espero que compreendas que não me refiro aos sacos de plásticos furados, ou às caixas inutilizadas que guardas na despensa. Refiro-me antes àquelas dificuldades, fraquezas, fragilidades, tribulações, angústias... e que mais? De certeza que consegues encontrar muito mais deste “lixo circunstancial” que anda por aí perdido em tua jornada, do que aquele que enumerei. Na verdade, podíamos encher sacos e sacos dele, não é mesmo? Mas se me permites a ousadia, queria te pedir que não feches o saco, ou se já o fechaste convido-te a abrir. O quê? Abrir o saco? Já não há mais nada a fazer, já cheira mal. Não te preocupes com o cheiro, abre o saco para Deus, porque afinal Ele não desperdiça nada, sua graça é recicladora.  

Mas para quê que Deus quer um saco cheio de problemas, lutas, dificuldades, rejeição, fraqueza, humilhação... aliás porque Ele mesmo permitiu que todo esse “lixo circunstancial” me entrasse pela casa a dentro? Talvez seria melhor começarmos por mudar os nomes. Que tal em vez de lhe chamarmos “lixo circunstancial” o chamarmos de dádiva? Também seria uma boa possibilidade chamá-lo de servo. Sim porque, quando começamos a olhar para o sofrimento na perspetiva do que ele gera em nós ao invés do que ele provoca, não se torna ele uma dádiva? Se a esse mesmo sofrimento retirarmos a identidade de tirano, não se tornará ele um simples servo que trabalha para nos aperfeiçoar?  

Será que conseguimos fazer esta mudança de conceitos? Ah Paulo conseguiu. Quando ajoelhado ele orou por três vezes, pedindo que Deus retirasse o espinho de sua carne. Não era tão mais fácil colocar o espinho no saco e jogá-lo fora? Mas a verdade é que Deus não desperdiça nada, nem mesmo o espinho mais doloroso e irritante que nos fere. Sim, Deus respondeu a Paulo, de certeza que não foi da forma como ele esperava, mas ele respondeu. Deus não lhe deu o livramento, mas lhe concedeu o suprimento para viver com espinho, através da sua graça transformadora.  

Ás vezes é assim que acontece connosco. Oramos por livramento, mas Deus nos responde com suprimento. Facilmente pensamos que nada nos derruba, nos consideramos até certo ponto fortes para superar as dificuldades. Mas é quando estamos na banca rota das nossas forças que percebemos que na verdade somos fracos e somente a graça de Deus é suficiente para nos dar o poder de Cristo. É nesse processo que somos moldados. É aí que a graça recicladora entra em ação transformando o nosso sofrimento num escudo de proteção contra o orgulho. Aquilo que vem para criar dano e entulho, Deus usa para nos aperfeiçoar e é quando chegamos ao fim de nossas forças que somos, por fim, fortalecidos.  

Paulo chegou ao ponto de dizer que sentia prazer em todas as circunstâncias difíceis. Não prazer em sofrer, mas prazer nas dádivas que os sofrimentos estavam trazendo. Que dádiva era essa? Uma graça que provia poder que o aperfeiçoava. O espinho permanecia lá, tal como as nossas lutas e dores vão muitas vezes permanecer, mas a graça de Deus os supera. A alegria na graça de Deus coloca as nossas dores na perspetiva certa. Precisamos de deixar de olhar para as feridas nos nossos joelhos esfolados e direcionar os olhos para a grande dádiva que o Pai nos está entregando. Tal e qual como uma criança que se esquece de suas pequenas feridas, quando seus olhos brilhantes se alegram ao ver seu Pai chegar com aquele presente tão esperado.  

Não é, afinal, a redenção o presente que tanto esperámos? Mas se simplesmente ele deixar de ser para nós valioso, certamente deixaremos de sentir nele prazer.  

A graça de Deus é suficiente para transformar todo o mal em bem. Aquilo que veio para te destruir, Ele pode usar para te proteger. Aquilo que veio para te enfraquecer, Ele pode usar para te aperfeiçoar, o que causava dor Ele pode transformar em alegria, porque ao fim das contas Deus não desperdiça nada, sua graça á recicladora.  

Que tal então começarmos a fazer a limpeza da forma correta? Talvez abrir os sacos de nossas angústias e tribulações e colocá-los dentro da graça recicladora, seria um bom começo. Se encararmos o sofrimento que nos atinge como simples “lixo circunstancial” rapidamente teremos um coração entulhado e contaminado. Estas limpezas não são fáceis, porque não se trata apenas de limpar, mas de transformar. Por isso, precisamos de humildemente nos entregar nas mãos do nosso Pai e deixar que sua graça nos sustente neste difícil processo de reciclagem. E se deixarmos de olhar para as feridas dos joelhos, das mãos ou dos pés e nossos olhos se encherem de alegria pelo prazer de contemplar Suas dádivas, certamente a dor do processo se tornará quase que insignificante.  



Sara Rosa



Créditos Foto: Foto de Juan Pablo Serrano Arenas no Pexels












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